segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Fim de noite



A noite abraça-me fria na calada da alta madrugada.

Estou só, a lua é minha confidente.

O infinito parece a cada instante mais próximo das minhas mãos.

Meus sonhos, meus temores e incertezas afogam minha alma;

sufocam meus gritos.

Esse duelo noturno acompanha-me até o amanhecer;

não tenho sono, não tenho insônia.

Estou sóbrio, embriagado de tédio e angústias indefinidas.

Quando o sol pedir licença, retirar-me-ei deste palco;

esperarei novamente meu ato.

A vida é uma tristeza quase absoluta; rotinas cíclicas, infinitas.

Trabalhos intermináveis.

Todas as manhãs, milhões de seres, em marcha fúnebre, dirigem-se às paradas dessas grandes cidades.

Aglomeram-se, atrolham-se em pequenos espaços.

Sono nos rostos, tristeza nos pensamentos.

Qual o objetivo disso?

Onde isso levará?

Que fim encontraremos para além dessa vida?

Semanas inteiras passadas em branco à espera do fim de semana.

Não é o tempo que estamos matando, é a nossa vida que está morrendo.

Não vislumbramos os jardins, tampouco nossos parentes.

Pensamentos a mil, vidas a dez.

Estamos destinados a envelhecer,e, a beira da morte, compreender que tudo aquilo que passamos, passamos em vão.

Será tarde, o tempo é imutável, o fim não.

Viver o agora, é mais do que viver o presente, é garantir vida no futuro.

E mais uma vez o sol expulsa-me.

Voltarei ao meu ciclo noturno e esquecerei dos sentimentos sentidos quando não estava em posse de minha razão.
(André Guerra)

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